dezembro 2018
É claro que fazer poesia nunca foi um privilégio masculino. Se ao longo da história surgiram menos poetas-mulheres (aconselho não usar o termo poetisa – diga a poeta Fulana), é porque as mulheres sempre tiveram menos oportunidades. Imagine as que, na Idade Média, em vez de cuidar humildemente da casa e de seu amo e senhor, inventassem escrever versos. Perigava irem parar na fogueira.
2018 foi um ano incrível para a Blombô! Trabalhamos duro, arriscamos, acertamos, fizemos nosso melhor, aprendemos. Participamos da SP Arte e lançamos nosso Blog. Nossos leilões apoiaram instituições como a Associação Beneficente Santa Fé, Instituto Rodrigo Mendes e Pivô. Encerramos o ano numa linda parceria com a Galeria Luisa Strina para a realização do leilão em prol da ONG Anima. Nosso catálogo aumentou e levamos arte para perto de muitas pessoas.
Se você gosta de escolher presentes que levem aquele tanto a mais de arte e conteúdo para os pequenos, nós temos duas dicas imperdíveis para este Natal. A primeira é A Vida Não Me Assusta, escrito por Maya Angelou e ilustrado por Jean-Michel Basquiat. Lançado há 25 anos nos Estados Unidos, somente em 2018 ganhou um versão em português, lançada pelo selo Caveirinha da editora DarkSide Books. Escrito no formato de poema, o livro não traz só a mensagem para que as crianças enfrentem com valentia seus medos, mas também traz representatividade de duas grandes e importantíssimas personalidades que sofreram racismo, um sem número de violências e, ainda assim não se assustaram com a vida. Produziram a arte que vive até hoje, ecoando sua forte mensagem.
Depois de quase 4 meses em exposição, a obra CAOS, do artista Eduardo Srur, passou por uma transformação radical no última dia 10 de dezembro, tornando-se praticamente um novo trabalho. O que antes eram 2 blocos enormes de carrinhos coloridos e presos de forma caótica uns sobre os outros, passou a ser uma enorme instalação no chão, com os carrinhos na mais perfeita ordem, lado a lado, fileira após fileira, lembrando o pátio cheio das montadoras. E assim, numa formação sem nenhum caos, veio o grand finale: quando o museu abriu suas portas no dia seguinte, cada um dos visitantes pôde pegar um dos carrinhos e levar para casa um pedaço da obra autografada pelo próprio Srur, que recebeu o público desde as primeiras horas.
Muitos de vocês já deviam estar-se perguntando: e Carlos Drummond de Andrade? Por que não apareceu ainda, ele que é provavelmente o mais famoso poeta moderno brasileiro? Para mim, não só o mais famoso; também o maior. Como não existe instrumento para esse tipo de medida, não posso apresentar provas, a não ser seus próprios poemas maravilhosos. De tempos em tempos trarei um aqui. E cada vez mais vocês se deslumbrarão, e acabarão concordando comigo. Eis os três grandes da língua portuguesa: Camões, Fernando Pessoa, Drummond.
Uma coisa puxa a outra. Da última vez, ouvimos Susan Boyle, descoberta num programa de tv inglês. A terra da Rainha me ficou na cabeça e, nesse caso, inevitavelmente eles tinham que ser os seguintes: Paul, Ringo, George e John, a mais ilustre banda de rock de todos os tempos. Qual era a mágica dos Beatles? De onde vinha sua sedução, que fazia as mocinhas desmaiarem histéricas nos shows, e o mundo inteiro comprar, encantado, seus discos? Eu não sei responder, talvez os especialistas saibam. Ao ouvi-los, hoje, o que me toca é o talento, a honestidade, a limpidez, seu modo transparente de ser e o lirismo saudável. Suas letras contam histórias simples, quase sempre do dia a dia, colocadas em lindas melodias.
Até se tornarem ícones inabaláveis – como Portinari, Tarsila, Volpi –, mesmo grandes artistas têm fases de menor visibilidade. O baiano Rubem Valentim (1922-1991), que na década de 1970 e 80 chegava a ser citado ao lado de Tarsila e Volpi, andou sumido. Neste instante, está merecidamente voltando à tona numa ampla e bonita exposição no Museu de Arte de São Paulo.
O rótulo “primitivo”, que se usa para pinturas como esta, é muito infeliz. A palavra sugere precariedade, rudeza, falta de competência, algo mal realizado. Também não é dos melhores o rótulo “ingênuo”, que transforma os artistas em bobocas pouco inteligentes. Sobra “espontâneo”, que seria o menos injusto e é o menos usado.
Giselle Beiguelman, artista e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, participa hoje de uma conversa na mostra Camadas do Coletivo Lâmina, formado por Gabriela De Laurentiis e João Mascaro. Nesta exposição, o Lâmina reúne objetos associados à tecnologia da imagem, produzindo uma instalação fotográfica imersiva e propõe estruturas para tridimensionalizar as imagens, transformando-as em objetos específicos. “A exposição tem curadoria de Ana Candida de Avelar. Reúne uma série de dispositivos de imagem, de diferentes épocas e distintos portes, com filmes, vídeos e fotos, todos em formato de projeção, relativos a momentos de violência nas manifestações de 2013”, destaca a artista.
Para celebrar o aniversário de 35 anos da obra Surrounded Islands, a grandiosa instalação dos artistas Christo e Jeanne-Claude que envolveu 11 ilhas inabitadas da Baía de Biscayne em Miami com 2 milhões de metros quadrados de tecido rosa, o Pérez Art Museum Miami - P.A.M.M. - montou uma exibição com documentos contando todo o histórico do projeto. Os visitantes puderam ver mais de 50 desenhos e colagens, centenas de fotografias e uma maquete em larga escala das ilhas. Um detalhe interessante foi que os artistas fizeram desenhos e os venderam para financiar a obra. A Blombô visitou a mostra e traz para você um pouco dessa instalação fantástica, que é considerada fundamental para o papel da cidade de Miami como referência em arte contemporânea.
Hoje Clarice Lispector faria 98 anos. Nascida Chaya Pinkhasovna Lispector, Clarice deixou a Ucrânia com sua família e veio para o Brasil em 1922, fugindo da perseguição aos judeus após a Primeira Guerra Mundial. Seu romance de estreia foi "Perto do coração selvagem", que lançou quando tinha 24 anos, e lhe rendeu seu primeiro prêmio, dado pela Fundação Graça Aranha que o reconheceu como melhor romance de estreia em 1944. Seu último romance foi "A Hora da Estrela", publicado 2 meses antes de sua morte, às vésperas de completar 57 anos.