Um poema de Glauceste Satúrnio

Um poema de Glauceste Satúrnio

Paula Reis 878 views Nenhum comentário

No século 19 as moças aprendiam piano. No século anterior os intelectuais ilustres faziam poesia. Entre os Inconfidentes Mineiros, três foram poetas: Inácio José de Alvarenga Peixoto, Cláudio Manoel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga. Alvarenga nasceu no Rio em 1742 e morreu degredado em Angola cinquenta anos depois. Formou-se em Coimbra e ocupou importantes cargos públicos em Minas Gerais. Era realmente progressista e iluminista, mas parece que aderiu à Inconfidência sobretudo porque tinha dívidas com a Coroa Portuguesa. Sugeriu a inscrição latina que aparece na bandeira de Minas Libertas quae sera tamen –, que está errada. O tamen está sobrando.

Na época os poetas se davam pseudônimos idílicos, e Gonzaga, sabemos, era Dirceu; Maria Doroteia, sua amada, era Marília. Alvarenga Peixoto era Glauceste Satúrnio, mas mesmo na poesia tratava sua mulher pelo nome real, Bárbara Heliodora. Escreveu-lhe um dos mais famosos, simples e belos poemas do arcadismo brasileiro, quando já estava preso. Aqui vai.

Bárbara Bela

Alvarenga Peixoto

Bárbara bela, do Norte estrela,

que meu destino sabes guiar,

de ti ausente, triste, somente

as horas passo a suspirar.

Isto é castigo que Amor me dá.

Por entre as penhas de incultas brenhas

cansa-me a vista de te buscar;

porém não vejo mais que o desejo

sem esperança de te encontrar.

Isso é castigo que Amor me dá.

Eu bem queria a noite e o dia

sempre contigo poder passar;

mas orgulhosa sorte invejosa

desta fortuna me quer privar.

Isto é castigo que Amor me dá.

Tu, entre os braços, ternos abraços

da filha amada podes gozar.

Priva-me a estrela de ti e dela,

busca dois modos de me matar.

Isto é castigo que Amor me dá.

Publicado em: Arte
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