Pode haver sedução na geometria?

Pode haver sedução na geometria?

Paula Reis 110 views Nenhum comentário

Paulo Roberto Leal nasceu no Rio em 1946 e morreu em 1991. Artista abstracionista geométrico, surgiu na década de 1970 e logo ganhou um prêmio na Bienal de São Paulo e integrou a representação brasileira na Bienal de Veneza. Também conseguiu sucesso de mercado, graças a uma produção inteligente e sedutora. Saiu dos holofotes porque morreu tão cedo. Artistas no estágio em que ele estava têm de permanecer ativos por mais um bom tempo, para trabalhar sua imagem e sua obra. Isso faz parte da carreira e não é ilegítimo.

É um prazer e um ato de justiça ver a atual exposição de Paulo Leal na Galeria Bergamim e Gomide, em São Paulo. Não possuindo o espaço de um museu, é por força incompleta. É pena, pois faltam os múltiplos da primeira fase, como as lúdicas caixas de acrílico contendo anéis de papel colorido soltos no seu interior. Girando a caixa, o espectador brincava com eles. Em compensação, há três obras da talvez mais bela fase, em que os anéis (agora fixos) formam faixas paralelas onduladas por baixo de placas de acrílico leitoso. Basta a alternância entre foco e desfoque, na superfície, para criar um clima levemente misterioso. E há também telas da fase mais ilustre, construções monocromáticas que não são pinturas e sim pedaços de tecido costurados. As linhas da costura formam os traços divisores do espaço.

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Caixas e acrílico foram materiais típicos dos anos 70. A eles Paulo somava o papel, quase sua matéria prima principal, trazendo outra marca da época: a da arte povera (arte pobre) italiana, cujo nome é autoexplicativo. E acima de tudo vinha sua vontade de ordem – a geometria. Não a geometria dos artistas concretos da década de 1950, feita com a cabeça e não com o coração. Como bom carioca, ele era herdeiro do neoconcretismo, movimento dos anos 60 no Rio, que mudou as regras e submeteu a geometria à sensibilidade e expressividade do artista. É uma combinação que o talentoso Paulo Leal dominava com perfeição.

Publicado em: Arte
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