Pequeno tributo a Lygia Clark

Pequeno tributo a Lygia Clark

Paula Reis 158 views Nenhum comentário

"Como poderia escrever meu livro? Me pergunto todos os dias e vejo a dificuldade. Seria de como saí da loucura para a vida através da arte e depois como saí para a vida através da arte, deixando de fazê-la."

Neste mesmo dia 23 de outubro, no ano de 1920, nascia em Belo Horizonte Lygia Pimentel Lins, mais tarde conhecida e imortalizada como Lygia Clark, uma das mais importantes artistas contemporâneas de nosso país e reconhecida internacionalmente. Em 2014 o Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) montou uma antológica exposição dedicada à sua obra, dando mostra de sua enorme relevância.

"A arte não é uma mistificação burguesa. A maneira de comunicar a proposição é que mudou."

Lygia Clark iniciou seus estudos sobre arte no Rio de Janeiro em 1947, já casada e com três filhos, sob a orientação de Burle Marx e Zélia Salgado. Entre 1950 e 1952 viveu em Paris, onde estudou com Fernand Léger, Arpad Szenes e Isaac Dobrinsky. De volta ao Brasil integrou o Grupo  Frente e foi uma das fundadoras do Grupo Neoconcreto. A artista foi mudando a natureza e o sentido dos quadros, estendendo a cor até a moldura, que passa a ser incorporada como elemento plástico em suas obras. Gradualmente foi colocando em sua obra experiências com objetos tridimensionais. Em 1960 realizou a exposição “Bichos”, com construções metálicas geométricas articuladas por meio de dobradiças e que pediam a participação do espectador para descobrir as inúmeras formas que a estrutura poderia assumir. Com esta série, Clark torna-se uma das pioneiras na arte participativa mundial. Nesse mesmo ano lecionou artes plásticas no Instituto Nacional de Educação dos Surdos, no Rio de Janeiro.

CLARK, L. Bicho de bolso. Placas de metal, 1966

"Se a perda da individualidade é de certa maneira imposta ao homem moderno, o artista lhe oferece uma revanche e a ocasião de encontrar-se."

A transferência de poder do artista tem um novo estágio em “Caminhando, 1964”. O participante cria uma fita de Moebius e desfruta o prazer de criar, acabando por ele mesmo realizar a obra de arte. Era o início claro de num novo paradigma nas Artes Visuais brasileiras. Clark passa então a trabalhos voltados para o corpo, pois era ele quem interessava à artista.

"Nós somos os propositores: nós somos o molde, cabe a você soprar dentro dele o sentido da nossa existência."

Entre 1970 e 1975 vive em Paris e leciona no curso de Comunicação Gestual na Faculdade de Artes Plásticas St. Charles, na Sorbonne, quando desenvolve diversas experiências terapêuticas com seus alunos, fazendo uso de objetos sensoriais. De volta ao Rio de Janeiro, dedica-se ao estudo das possibilidades terapêuticas da arte sensorial e dos objetos relacionados. Passa a dar consultas terapêuticas particulares, entre 1978 e 1985, considerando seu trabalho definitivamente alheio à arte e próximo à psicanálise. Vítima de ataque cardíaco, Lygia Clark faleceu em 25 de abril de 1988 na cidade do Rio de Janeiro.

"A arte não consiste mais em um objeto para você olhar, achar bonito, mas para uma preparação para a vida."

Sua trajetória faz de Lygia Clark uma artista atemporal e sem um lugar muito bem definido dentro da História da Arte. Tanto ela quanto sua obra fogem de categorias ou situações que podemos facilmente rotular. É tarefa quase impossível descrever a grandiosidade de seu trabalho em poucas palavras, mas não poderíamos deixar de lhe prestar uma singela homenagem e, quem sabe, despertar em você a vontade de conhecer mais sobre essa extraordinária mulher.

Dica da Blombô: amanhã, dia 24, acontece mais uma atividade do programa para crianças Mergulhando entre Artistas dedicado a Lygia Clark.

Vista da exposição no MoMA

Publicado em: Arte
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