Exposição do mês na Blombô homenageia Cícero Dias

Exposição do mês na Blombô homenageia Cícero Dias

Ana Maria 101 views Nenhum comentário

Poucos artistas brasileiros constituíram uma carreira tão longeva quanto Cícero Dias. Foram mais de 80 anos dedicados às artes plásticas. Passando pelo desenho, gravura, pintura, murais, pintura em cerâmica, e outras técnicas.

Com 13 anos muda para o Rio de Janeiro e entra para a Escola de Belas Artes, no Rio, Cícero se torna amigo de Di Cavalcanti que já frequentava o círculo de amizade com pintores franceses como Georges Braque, Fernand Léger, Henri Matisse e Picasso.  

Sem título, Gravura

Em 1928 realizou sua primeira exposição em um local inusitado, em um hospício, por falta de outro lugar para realizar a mostra. Nesta ocasião suas obras já traziam uma temática com imagens do inconsciente como delírios, pesadelos e sonhos com uma influência surrealista. Sua proposta não é bem compreendida, além de não obter sucesso com a crítica, e um homem com perfil, que avançou sobre suas pinturas com uma navalha.

Ao longo de toda sua trajetória encontramos muitas referências ao Recife, sua grande declaração de amor à terra natal é a obra "Eu vi o mundo… ele começava no Recife" com 12 metros de largura produzida em 1926. A obra já apresenta nuances do inconsciente humano e, na época, gerou grande polêmica pela presença de corpos femininos nus. A obra também foi chamada Guernica Brasileira.

Parte da obra "Eu vi o mundo...ele começava no recife"

O artista foi preso em 1937 pelo Estado Novo e por este motivo vai para a França. Lá a amizade com Picasso se intensifica de tal maneira, que Picasso veio a colocar o nome de Cícero em sua linha telefônica. Cícero dessa forma filtrava as ligações para Picasso.

A amizade rendeu o empréstimo da Guernica para a 2ª Bienal de São Paulo de São Paulo em 1953.

Sua casa na capital francesa se torna um ponto de encontro dos artistas brasileiros e Cícero tornou-se um canal importante do contato entre a produção de arte brasileira e a elite artística européia. Por este motivo a Casa França-Brasil no Rio de Janeiro foi escolhida como sede para uma de suas mais importantes exposições em 1997.

Em 1942 é preso novamente pelos nazistas e enviado para a Alemanha, de lá ele vai para Lisboa onde é premiado pelo salão de Arte Moderna de Lisboa e conhece sua esposa Raymonde.

Sua conversa com o surrealismo é muito diferente de qualquer outro pintor, mas chega a ser chamado de Chagall brasileiro. Ele mesmo não se considerava surrealista, mas destaca a vocação pernambucana "Terra de fantasia na arte popular". Nesta linha imaginativa encontramos um boi no telhado, três cabeças sem corpo, corpos que flutuam, e outras figuras arquetípicas de cunho fantasioso.

A coleção "Suite Pernambucana" é composta por 25 aquarelas do artista da década de 20. A coleção foi um projeto para a Galeria Bellechasse em Paris no ano de 1983 e levou um ano para ser concluída. Executada também em Paris pelo próprio artista em conjunto com o mais importante litógrafo da época, Pierre Badey, em seu atelier em Montparnasse.

Os musicistas, da série Suite Pernambucana, editada em 1983

Cícero Dias se destacou tanto no figurativismo quanto na abstração geométrica, estilo que se dedicou nas década de 50, mantendo as mesmas escolhas cromáticas de tons alegres. Depois da década de 60 retorna ao figurativismo trazendo novamente de forma ainda mais madura os temas do mar, dos coqueiros e das cenas e personagens de sua terra natal, sempre impregnados de saudade.

Sem título, Gravura

Em 2002, lançou o livro “Cícero Dias - Uma Vida pela Pintura”, e veio a falecer no ano seguinte em Paris, onde residia.

Seu legado é tão importantes que seu acervo hoje atinje grandes valores de mercado. Para se ter uma parte dessa história trazendo a poesia de Cícero dias para sua coleção, pagando um preço acessível, uma boa opção é adquirir uma de suas gravura na Blombô, clique aqui e confira!

Fontes:

Cícero Dias ou uma aparição “sur-realista” por excelência. Dra. Angela Grando – UFES

Publicado em: ArteBiografia
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