Enfim, uma Bienal onde se respira
De dois em dois anos, uma nova Bienal de São Paulo agita a cidade e chama a atenção do público e crítica internacionais. Merecidamente, porque é uma exposição de grande importância, reunindo centenas de artistas escolhidos no mundo inteiro. Nossa bienal foi criada em 1951, com o modelo e os mesmos objetivos da centenária Bienal de Veneza: dar a conhecer a produção artística que está acontecendo no momento, em especial a de vanguarda. Era um meio de fazer circular informação. Hoje existem milhares de livros sobre arte a preços acessíveis e podemos ver on line qualquer exposição na Internet. As bienais não são mais necessárias para informar, mas trazem as obras ao vivo. Ficar cara a cara com elas conserva certa mística. O público gosta.
Três andares cansativos
Nas últimas quatro ou cinco edições, a bienal foi uma coisa pesada. Um exercício tanto físico quanto mental para os visitantes. Três andares daquele imenso pavilhão no Parque do Ibirapuera, cheios de objetos e sensações confusas e novas linguagens cansativas, como os vídeos. Não por culpa das bienais (hoje há várias no mundo), a arte contemporânea deixou de ser uma convivência só prazerosa. Virou também um trabalho intelectual e muitas vezes desorientador. Os curadores ainda complicavam, inventando temas que a gente dificilmente conseguia enxergar nas obras. Também criavam textos deliberadamente obscuros. A fala obscura é uma forma milenar de instituir poder: lembrem-se do latim da igreja católica e da linguagem inventada pelos pajés para “conversar” com os deuses diante da tribo.
Sem nada para amarrar
Esta 33ª. Bienal é diferente. O curador Gabriel Pérez-Barreiro, espanhol residente em Nova York, convidou sete artistas para serem uma espécie de sub-curadores. A cada um coube ocupar determinado espaço, incluindo obras de sua autoria e de outros artistas que ele escolheu, em função do projeto que inventou. O resultado são centenas de obras correlacionadas em sete grupos – que são independentes um do outro. O curador principal acrescentou ainda doze outros artistas com linguagens variadas. Não há nenhuma camisa de força, nenhum “conceito” abstrato, nenhum tema a amarrar a exposição. Ela ficou mais interessante e arejada. Pode ser que também seja menos “vanguardista” que outras, mas isso não tem tanta importância. O que importa é que há muito para ver sem se amolar.
Exposição de Karin Mamma Antdersson. 33a Bienal de São Paulo. 03/09/2018 © Leo Eloy / Estúdio Garagem / Fundação Bienal de São Paulo.