Ossinho da sorte
Grafite sobre Papel
30 x 21,5 cm
Sidney Carlos do Amaral (São Paulo, São Paulo, 1973 – Idem, 2017) foi um artista visual e professor brasileiro cuja extensa produção artística explorou a versatilidade poética e formal dos objetos cotidianos em diferentes linguagens. Em suas pinturas, Amaral abordou questões identitárias, ampliando o debate artístico brasileiro sobre a representação do homem negro contemporâneo.
Na década de 1990, Sidney estudou no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo (Laosp), na Escola Panamericana de Artes e na ECOS Escola de Fotografia. Formou-se em Educação Artística pela Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) em 1998. No ano seguinte, participou do curso de orientação e desenvolvimento de projetos artísticos do Museu Brasileiro de Escultura (Mube), ministrado pela artista Ana Maria Tavares. Durante sua carreira, Amaral conciliou a produção artística com o trabalho como professor de artes na rede pública de ensino. Em 2001, realizou sua primeira exposição individual no Centro Cultural São Paulo (CCSP).
No início, interessou-se pela elaboração de objetos prosaicos, deslocados de contexto e forjados em materiais nobres, como mármore, bronze e porcelana. A série "Balões em Suspensão" (2009) explora paradoxos semânticos e visuais entre a leveza da forma e o peso do bronze, bem como a delicadeza do polimento dos balões contrastando com a rusticidade da corrente de motosserra que os prende. Seus temas muitas vezes eram impalpáveis e efêmeros, como em "Os Chinelos da Namorada" (2ª versão, 2014), onde o bronze polido sublima e fixa um episódio cotidiano.
Amaral utilizou o autorretrato fotográfico como suporte para a criação de pinturas nas quais se colocava em meio a objetos que falavam de relações afetivas. Essas relações eram amplificadas pela dramaticidade narrativa e por uma atmosfera enigmática e perturbadora, familiar à pintura metafísica. Em "Imolação" (2009/2014), o autorretrato descreve uma “auto-imolação”, interpretada pelo artista como um ato de libertação.
Durante sua residência artística no Tamarind Institute (EUA) em 2013, Amaral trabalhou questões de identidade racial por meio da litografia. Esse trabalho se aproximou dos registros feitos por artistas viajantes no Brasil sobre os escravizados, mas atualizou essa iconografia, dando voz ao sujeito representado. Suas aquarelas introspectivas contrapõem-se à exterioridade das tarefas registradas pelos viajantes. Em "O Estrangeiro" (2011), ele se representa num caminho dificultoso rumo ao mundo das artes. Já na aquarela "Gargalheira, Quem Falará por Nós?" (2014), Amaral aborda a opressão social midiatizada do presente.
A recorrência do autorretrato na obra de Sidney Amaral, como observado pelo crítico Tadeu Chiarelli, pode ser compreendida como um meio de afirmação social, profissional e identitária. Em suas obras, dilemas coletivos são trazidos para a primeira pessoa como estratégia expressiva, ganhando concretude.
No políptico "Incômodo" (2014), Amaral oferece uma visão da abolição da escravatura como resistência, luta e incertezas, contrapondo-se à visão imperial alegorizada na "Libertação dos Escravos" (1888) de Pedro Américo. A narrativa austera de Amaral evoca as alegorias de Glauco Rodrigues dos anos 1960/70, mas se afasta do deleite festivo. O conjunto de quadros retrata revoltas, danças, personagens emblemáticas da cultura negra e figuras históricas importantes, como Francisco José do Nascimento e João Cândido Felisberto.
A construção de objetos paradoxais e a investigação contínua sobre a própria identidade e as relações urbanas marcaram a produção de Amaral. Seu desenho, fortemente influenciado pela referência fotográfica, foi seu principal instrumento para apropriação de imagens e formas.