Broken Year (November)
Outra sobre Tela
,
2014
177 x 172 cm
Páginas de livros de arquivo montadas sobre tela.
Valeska Soares
(Belo Horizonte, MG, 1957) - Escultora.
Valeska Soares formou-se em arquitetura pela Universidade Santa Úrsula, no Rio de Janeiro, em 1987. Em 1990, especializou-se em história da arte e arquitetura pela PUC/RJ. No ano seguinte, mudou-se para Nova York, onde completou um mestrado no Pratt Institute. Em 1996, iniciou seu doutorado em Artes Plásticas na New York University.
Comentário Crítico
Valeska Soares trabalha com diversas formas de arte, incluindo escultura, instalação, desenho, fotografia e vídeo. Segundo o crítico de arte Adriano Pedrosa, sua produção abrange um repertório complexo de temas, frequentemente explorando conceitos opostos como prazer e dor, beleza e crueldade, memória e esquecimento, completude e ausência. Um exemplo disso é sua obra "Sem Título (Preserva)" (1991), onde ela expõe rosas vermelhas embrulhadas em algodão branco. Com o tempo, as rosas apodrecem, adquirindo uma aparência mórbida. Charles Merewether observa que Soares cria um universo hermético e místico, de forte carga erótica, onde elementos como rosas podem simbolizar amor, sangue ou flores para os mortos.
Em "Vanishing Point" (1998), Soares justapõe tanques de aço inoxidável, aludindo a diagramas de jardins clássicos, transformando-os em esculturas perfumadas. O perfume inicialmente sedutor torna-se enjoativo devido ao seu excesso. Em uma série de fotografias e vídeos exibidos no Museu de Arte da Pampulha em 2002, Soares explora o espaço expositivo e a história do edifício através da manipulação de filmes antigos.
Críticas
"Nos últimos cinco anos, Soares vem criando um mundo hermético e místico de poder erótico. Seu trabalho é moldado por um desejo de se perder num mundo de objetos e imagens, criando um universo sensório privado de prazer, de dor, de desejo e sedução. Os trabalhos se submetem ao espectador como tendo sofrido uma queda: o corpo do sacrifício, o corpo belo, o corpo trabalhador, o corpo abjeto, o corpo do prazer, o corpo obediente, o corpo do descanso. Os sentidos são direcionados e potencializados por suas relações com o objeto, operando não apenas um movimento de estranhamento, mas de intoxicação também, através do qual o olho acha seu prazer e conforto na matéria tornada carne, o conhecimento se torna tátil e a memória, sensual. Desconhecidos para nós, é à beira dessas fronteiras invisíveis e sensíveis que caminhamos diariamente.
Os objetos discretos e sutis de Valeska Soares compõem um mundo de afinidades secretas, semi-reveladas a seus espectadores por meio de uma série de gestos discretos. Uma tal correspondência leva a marca de uma mémoire involuntaire proustiana. O que esses objetos resgatam dentro de si mesmos é a memória de seu próprio passado. ´O olhar que os encontrar um dia, no futuro, terá a imagem lúcida do que foram um dia. Antes´ (Lygia Canongia). Resgatamos entre as dobras um significado vestigial sempre lá. Nesse sentido, a arte produz uma relação de temporalidade consigo própria e com o espectador. Entramos numa dialética de esquecimento e lembrança. Incorporando as energias do erótico e da morte, o método de Soares provoca novas formas de pensamento sensível que estão em constante mutação, voláteis e inquietas".
Charles Merewether
Merewether, Charles. Para dentro do vazio. In: Soares, Valeska. Valeska Soares. n.p.
"As delicadezas de expressão de Valeska Soares também nos carregam ao universo da sensualidade em suas fotomontagens, como nas pequenas peças tecidas e pendentes de uns dois anos atrás; assim como nos impressionou primeiro quando nos vimos diante da simbologia da deterioração da beleza efêmera, em suas instalações com rosas, série de trabalhos sobre os estragos do tempo, embora aqui presente com um trabalho que atinge mais diretamente os sentidos do observador".
Aracy Amaral
Amaral, Aracy. Espelhos e sombras. In: Espelhos e sombras. p.18.