Sem título
1999
33 x 48 cm
Pigmentos naturais sobre papel.
Maria Lira Marques Borges (Araçuaí, Minas Gerais, 1945) é ceramista, pintora e pesquisadora cultural. Sua obra reflete o imaginário popular e as dificuldades sociais do Vale do Jequitinhonha, onde nasceu. Ao contrário de muitas artistas da região, não herdou a tradição cerâmica familiar, mas desenvolveu uma linguagem própria, marcada por referências indígenas e africanas.
Desde cedo, teve contato com o barro por meio da mãe, que fazia presépios para presentear. Com o pai, aprendeu a moldar cera de abelha. Mais tarde, aprendeu técnicas cerâmicas com Joana Poteira, ceramista local. Inspirou-se em livros emprestados pela família e, com o tempo, passou a retratar, em suas obras, as dificuldades e a vida sofrida da população local.
Nos anos 1970, dois acontecimentos impulsionaram sua carreira: o contato com estudantes da PUC-Minas, que divulgaram sua produção em Belo Horizonte, e a parceria com o Frei Chico, com quem realizou pesquisas sobre a música popular da região.
Sua obra se caracteriza por composições expressivas e dramáticas, como em Me ajude a levantar e Enchente em Araçuaí. Além da cerâmica, também produz máscaras inspiradas nas culturas afro e indígena e, após uma tendinite nos anos 1990, passou a pintar sobre papel, tecido e pedras, criando animais imaginários com pigmentos naturais.
Lira também atuou como pesquisadora musical, registrando cantigas e rezas do Jequitinhonha em centenas de fitas e slides. Em 1971, fundou o Coral Trovadores do Vale e, em 2010, o Museu de Araçuaí. Seu trabalho está presente em acervos particulares e museus como o Museu do Folclore Edison Carneiro, no Rio de Janeiro. Sua trajetória desafia as classificações entre arte popular e erudita, consolidando-se como uma das grandes representantes da arte brasileira contemporânea ligada à cultura regional.