Eliane Duarte cacho - Sementes, sisal e corda sintética - 2004 - 220 x 12 x 9 cm.(1)

Eliane Duarte

Cacho Escultura , 2004 220 x 12 x 9 cm

Sementes, sisal e corda sintética.

R$30.000,00



Eliane Duarte (Rio de Janeiro, 1943–2006) foi uma artista brasileira que, apesar de uma produção breve, deixou um legado significativo com suas obras que ultrapassam os limites convencionais da pintura, transformando a tela em suporte para objetos-amuletos carregados de misticismo. Sua prática se distanciava das formas tradicionais de arte, utilizando materiais como tecidos, algodão, pigmentos naturais, cera, sementes, cordas, penas, moedas, entre outros elementos. Esses objetos adquirem uma dimensão espiritual, tornando-se quase entidades, com funções simbólicas de proteção e fé. Segundo a própria artista, "Meu trabalho é quase uma reza, no sentido de fazê-los de forma lenta e por uni-los uns aos outros, costurando-os como se fossem patuás. Queria uma coisa que desse sorte às pessoas e tudo que eu coloco tem a função de amuletos".

A obra de Duarte explora a natureza e suas formas orgânicas, flores, cachos e vestes, materializando-se por meio de um processo visceral de costura. Embora a costura seja uma prática ancestral, muitas vezes associada ao universo feminino e doméstico, Eliane a utiliza de forma intensa e quase cirúrgica. Seu trabalho questiona as limitações do mercado de arte e dos padrões tradicionais, propondo uma comunicação tridimensional que transcende a escultura, com costura sobre a pele e não apenas sobre o tecido.

O legado de Eliane Duarte é crucial para a arte feminina no Brasil, evidenciando a falta de reconhecimento das mulheres artistas na memória coletiva de sua geração, refletindo as estruturas patriarcais presentes nas decisões históricas sobre o que é valorizado. A preservação de sua obra e sua memória é uma forma de honrar não apenas sua trajetória, mas a de todas as mulheres artistas que ainda carecem do reconhecimento merecido.

Duarte formou-se na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, entre 1987 e 1989. Em 1994, ganhou o 1º Prêmio do Salão Nacional de Artes Plásticas da Funarte com a obra "Veste", marcando seu reconhecimento no cenário artístico. A exploração do corpo e da pele, como elementos simbólicos e estéticos, tornou-se um tema central em sua produção.

Sua carreira foi marcada por inúmeras exposições individuais nas galerias Anna Maria Niemeyer, no Rio, e Camargo Vilaça, em São Paulo. Ela também expôs em importantes instituições no Brasil, como o MAC Niterói, MAM Rio de Janeiro, Paço Imperial, e o Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro. No exterior, sua obra foi apresentada no Museu Solomon R. Guggenheim em Nova Iorque, no Centro Cultural de Arte Contemporânea na Cidade do México, no Museo Alejandro Otero em Caracas, entre outros. Suas obras estão nas mais importantes coleções, como a do João Sattamini/MAC Niterói, Gilberto Chateaubriand/MAM Rio, e também em coleções internacionais como a Fondation Cartier pour l’art contemporain, em Paris.